terça-feira, junho 29, 2010

Rejeitado voto de pesar pelo falecimento de Rosa Coutinho


Ontem, na Assembleia de Freguesia de Cacilhas, apesar de haver outros assuntos em agenda, a surpresa foi a rejeição do "voto de pesar pelo falecimento de Rosa Coutinho", proposto pela CDU em virtude da intervenção do PSD ter levantado dúvidas em todas as bancadas, até na próprias hostes dos proponentes, levando a que a maioria se abstivesse e permitindo que no empate a três votos (a favor e contra), tivesse sido necessário o voto de qualidade do presidente da Mesa (PSD), o qual levou, obviamente, à rejeição daquele documento.

Veja, AQUI, o resumo da sessão.

E, já agora, deixo também algumas ligações que ajudarão a esclarecer o assunto da polémica carta, escrita em 22-12-1974, alegadamente por Rosa Coutinho a Agostinho Neto, e que apesar de já ser do conhecimento público há uns anos, não o era dos membros da Assembleia de Freguesia (entre os quais me incluo) e, por isso, tanta estupefação causou:

Hoje, depois de me ter informado sobre o assunto, acho lamentável que o PSD tenha trazido este assunto à colação, insistindo na veracidade de um documento que, afinal, muito poucos acreditam ser verdadeiro. Até Pacheco Pereira (PSD), numa análise que considero séria, apresenta argumentos que demonstram a falsidade daquele documento... Ora, bastou uma simples pesquisa na Internet para verificar que o assunto é polémico mas quase todos são unânimes em afirmar que dificilmente Rosa Coutinho (independentemente de se considerar que poderá não ter tido um comportamento isento no que toca ao processo de descolonização de Angola) escreveria uma barbaridade daquelas. Ora, parece-me que o PSD levantou a questão de forma deliberada para marcar apenas uma posição pessoal de um dos seus membros, o Presidente da AF de Cacilhas (que se disse angolano) o que não acho correcto, apesar de cada um ter direito a ter a sua opoinião... mas utilizar informações pouco credíveis para a fundamentar, já acho duvidoso do ponto de vista ético.

E com tudo isto, acabou perdendo impacto a discussão sobre a requalificação da Rua Cândido dos Reis e tornou-se insignificante o facto de, pela terceira vez, não se ter conseguido discutir o Projecto de Regimento da AF em virtude de, mais uma vez, a CDU ter uma proposta de alteração que não foi distribuída às restantes bancadas (PS, PSD e BE) antecipadamente. Só que ontem deu para perceber que não havia sido aquela bancada a culpada pela ocorrência mas sim a Mesa da Assembleia que recebera o documento e apesar de o respectivo Presidente dizer que dera ordens no sentido de ser remetido a todos os membros não diligenciara a confirmação da sua recepção. Responsabilidades? Este é um daqueles casos que, parecendo menor, mostra bem o desrespeito pelo funcionamento daquele órgão deliberativo e, como é hábito, "a culpa vai morrer solteira". E o assunto acabou sendo adiado para Setembro.

2 comentários:

Unknown disse...

Cara Ermelinda tal como ontem ja lhe tinha dito e pelos vistos não percebeu ou não quis perceber, essa mesma carta é polémica e todos nós sabemos disso, no entanto o meu voto contra o voto de pesar e por muito mais do que isso e têm a ver principalmente por tudo o que esse senhor fez durante o processo de descolonização de Angola. Foram inumeras as situações em que os portugueses que lá viviam foram abandonados por quem supostamente estava lá para cuidar e acautelar os direitos dos portugueses. Eu disse como português e angolano que sou e filho de angolanos que me sentia profundamente contra um voto de pesar que enaltecia uma pessoa que tanto mal fez aos seus próprios conterrâneos. Mas muito mais há para disser acerca desse senhor e dos muitos episodios que lá aconteceram durante a estadia dele como Governador Geral de Angola. Quando quiser estou sempre disponivel para falar sobre este assunto, não tenho medo nem receio e tenho a plena conciência daquilo que digo e leio.

Miguel Salvado

Presidente da Assembleia de Freguesia de Cacilhas eleito pelo
P.S.D.

BE - Cacilhas disse...

Caro Miguel:

Afirmou sim, e repetiu por diversas vezes, que a carta era um documento autêntido, verdadeiro e oficial, arquivado na Torre do Tombo.

Claro que também disse, que o seu conteúdo era polémico. Obviamente! Com declarações daquelas, só o poderia ser.

Mas não referiu, em parte alguma do seu discurso, que muitos contestavam a sua autenticidade, que havia até quem a considerava uma falsificação.

Por isso, não se trata de um acto voluntário de querer perceber ou não as suas palavras. Não coloque as coisas nesses termos pois não está correcto.

Julgo que eu e todos os que optámos por nos abster - perante a surpresa que foi para nós o conteúdo daquele documento do qual nada sabíamos (e as suas palavras não terão sido dirigidas apenas a mim mas a todos os presentes) entendemos e bem as suas palavras.

Se tem tantas razões de queixa de Rosa Coutinho (e não estou a questionar que as tenha) porque servir-se de uma carta daquelas, cuja autenticidade é duvidosa? Será que para justificar o seu voto contra precisa de afirmar que aquele documento era autêntico? Não bastaria a sua palavra, apresentando as suas razões? Era mesmo necessário anexar aquela carta?

Se há assim tantos motivos fundamentados para não gostar de Rosa Coutinho (e acredito que na interpretação que faz dos factos os tenha, não me cabe a mim julgá-lo a si nem a ninguém mais ainda quando, reconheço, pouco sei sobre o processo de descolonização de Angola) bem poderia ter arranjado outras provas documentais que não aquela.

E perdoe-me a ousadia, mas não resisto a perguntar-lhe: porque sentiu tanta necessidade de provar, com documentos, que tinha motivos de sobra para não gostar de Rosa Coutinho? Ou estava à espera que alguém lhe fosse pedir uma justificação?

E termino, agradecendo o facto de ter vindo a este meu espaço esclarecer o assunto, utilizando a sua verdadeira identidade. Mostra que sabe dar a cara por aquilo em que acredita e isso, tenho que admitir, é o que distingue os bons políticos dos políticos de fachada, independentemente de eu até considerar que não agiu de forma correcta no caso em apreço.

Saudações democráticas,

Ermelinda Toscano